Eu não concordo muito contigo, Inês. As "cruzes" nunca têm o tamanho ideal. Não vais comparar uma "cruz" de alguém que nada em dinheiro, passa meses inteiros a passar férias num país tropical qualquer e a única preocupação que tem é a sua relação com uma família ainda mais poderosa; com a de uma pessoa com uma anemia que tem de tratar de um inválido hemiplégico e de um deficiente mental com o pouco dinheiro que recebe por mês mais as pensões por invalidez que se derretem em remédios. É um bocadinho de exagero (E acredita, eu sei do que estou a falar por experiência própria).
Se chamas a isso "cruz ideal"... não sei no que é que estarás a pensar... (porque até o ideal era ir sem cruz nenhuma, ou uma que se metesse no bolso). A cruz nunca é ideal, é proporcional à quantidade de coragem que nós temos de ter para a carregar.
Quanto à questão dos valores, lembram-se dela? Algumas pessoas poderão dizer que o que eu vou dizer é errado mas tal como a Mafalda (a do Quino) diria: "
Ninguém é um bom Sherlock Holmes de si próprio."
O que me move mais na minha vida é sem dúvida o querer ajudar as outras pessoas (bem sei, não sou nenhuma Madre Teresa de Calcutá a ficar até às 3 da manhã a fazer
origamis para Inglês... mas, dentro dos possíveis tento ajudar). Eu tenho de ajudar o meu pai a sentir-se bem e com coragem para enfrentar uma fase difícil da vida dele, e minha, e todos os dias eu tenho e fazer rir o meu pai, de o consolar, de lhe dar alento, etc.
Ao fazer isto, não sei porquê, é uma das coisas mais estranhas que me aconteceu, eu, com o frágil que fiquei (porque a situação cá em casa é terrível) acabei por absorver alguma da personalidade das pessoas que estavam em volta, sobretudo a da Mafalda pois ela parecia quase sempre estar contente. Se repararem, por muito incrível, ou estúpido, que pareça, quando eu fico surpreendido eu digo "Taran!", tal como a Mafalda fazia antes. Quando eu parecia ser um cola (e às vezes ainda pareço, admito) era só eu que precisava urgentemente de alguém com quam falar e pensar em coisas diferentes, chamar a atenção para mim...
Eu também dou muita importância à imaginação. Sem ela, era impossível viver. É a minha saída de emergência antes de eu perder o controlo. Sem o bom humor e sem a imaginação, a vida era um tormento. Eu tento ver a vida do lado positivo.
A minha vida profissional também me preocupa, mas ela ainda está um pouco longínqua. O que me preocupa agora é ter a maior média que conseguir mas não faço disso a minha única razão de viver. Isso é o que a Quinta Vedeta (como eu o conheço mentalmente) fez, e vejam o que se tornou: Um
óptimo aluno, uma pessoa agradável mas com uma pincelada de arrogância por saber mais (e poder enfiar-se perfeitamente no fato de "aluno modelo"), curvado de estar tantas horas à mesa e de acarretar com livros e os olhos baços de tanta letra e tanto esquema pelos quais os olhos dele já passaram.
E Deus, onde é que Ele encaixa nisto tudo? É Ele que, mesmo sem eu notar, me ajuda a continuar, a olhar em frente e a sorrir. Há cerca de um ano é que eu descobri a sério Deus e tem sido ele que me tem dado esperança para continuar e a pensar positivo.
Eu acho que há que fazer as coisas com conta, peso e medida, porque senão, poderemos cair no enfadonho da rotina. Tal como a Professora Elisabete falou há uns tempos atrás, eu odiava ter uma vida "morna", sem um sentido para a vida, acabaremos por a desperdiçar e quando olharmos para trás veremos que, afinal, não valeu a pena.